O Brasil e seu primeiro santo

 

Foto: Fabio Pozzebom/ABr


Victor Hugo Barros

Membro da Academia Brasileira de Hagiologia (ABRHAGI)

Cadeira nº 13: São Frei Antônio Galvão


Há 15 anos, o Brasil via seu primeiro santo elevado à honra dos altares. "Declaramos e definimos como santo o beato Antônio de Sant'Anna Galvão. E o inscrevemos na lista dos santos. E estabelecemos que em toda a Igreja ele seja devotamente honrado entre os santos", com estas palavras, o então papa reinante, Bento XVI, canonizou Frei Galvão, oficializando a santidade daquele que, já em vida, operava milagres. Desde então, os brasileiros passaram a reconhecer naquele pobre frade construtor um modelo de santidade. Depois dele, outros brasileiros também tiveram sua santidade reconhecida, concretizando aquilo que, no começo da década de 90, João Paulo II afirmou: "O Brasil precisa de santos. De muitos santos!"

Foi em 11 de maio de 2007 que o Campo de Marte, em São Paulo, acolheu cerca de 800 mil fiéis que participaram, com devoção, da cerimônia de canonização, presidida pelo Papa Ratzinger. Em uma rara decisão, Antônio de Sant'Anna Galvão foi canonizado na cidade em que passou a maior parte de sua vida e não na Praça de São Pedro, no Vaticano, onde habitualmente acontece este rito solene. Mas, por vontade do pontífice, o primeiro santo brasileiro foi inscrito no livro dos santos na cidade que ainda em vida reconheceu sua amizade com Deus. "Este homem é preciosíssimo a toda esta cidade e vila da Capitania de São Paulo. É um homem religioso e de prudente conselho. Todos acodem a fazer-lhe pedidos. É um homem de paz e caridade", afirma uma ata contemporânea ao Santo, da Câmara de São Paulo.

Foi na cidade que leva o nome do “Apóstolo dos Gentios” que Frei Galvão deixou um marco visível de sua atuação apaixonada pela Igreja e pelo Evangelho. O Mosteiro da Luz, um dos marcos da capital paulista, é obra de suas mãos e de sua coragem apostólica. Para edificar a construção, que hoje abriga seu corpo, o Frei Antônio atuou como projetista, arquiteto, mestre de obras e pedreiro. Sua genialidade foi reconhecida para além de seu tempo. Em 2008, recebeu do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia do Estado de São Paulo (Crea-SP), o diploma de Engenheiro Honoris Causa.

Mas a maior construção do santo foi, sem dúvida, a que realiza até hoje nas almas. Sua canonização precedeu a de outros filhos da “Terra de Santa Cruz”. Hoje, 37 homens e mulheres que viveram no Brasil já possuem sua santidade formalmente reconhecida pela Igreja. Outros 54 beatos também fulguram nos altares nacionais. Mas é verdade que, informalmente, este número deve ser ainda maior, pois há muitos outros santos que só Deus sabe o nome, como recordou Bento XVI.

Por isso, ao fazermos memória dos 15 anos da canonização de Frei Galvão, devemos também nos recordar dos Santos brasileiros que já estão na glória e dos que ainda caminham conosco. Ao mesmo tempo, somos impelidos a aumentar em nós o desejo da santificação, renovando sempre as doses diárias das pílulas de fé, esperança e caridade, pregadas e vividas por Santo Antônio de Sant'Anna Galvão. Que, do céu, ele rogue pela nossa pátria e por todos os que, olhando para o primeiro brasileiro a alcançar a honra dos altares, veem o exemplo de uma vida escondida com Cristo em Deus (cf. Cl 3,3).

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