Horácio Dídimo: Poeta da Ternura e do Sagrado - por José Luís Lira

José Luís Lira



Palestra proferida por José José Luís Lira na Sessão da Saudade ocorrida em 26/09/2018 em homenagem ao acadêmico Horácio Dídimo (falecido em 02/09/2018)




Primeiro, agradeço a Deus por ter conhecido o Prof. Horácio Dídimo e com ele ter convivido; segundo, agradeço ao nosso nobre Presidente, Prof. Vicente Maia, por aceitar a sugestão do Acadêmico Luciano Dídimo para que eu me manifestasse a respeito deste nosso Confrade Horácio Dídimo que junto com outros confrades e confreiras[1] toma assento na Academia de Hagiologia do Céu. O Luciano tem a sorte de ter seu diploma preenchido com a letra de seu pai. Lembro-me como se fosse hoje, do dia de sua posse.

Horácio Dídimo

Horácio Dídimo Pereira Barbosa Vieira, nasceu a 23 de março de 1935, data na qual ingressava no céu Santa Rafka, monja mística católica maronita libanesa, que suportou a agonia que precedeu seu retorno à Casa do Pai, “tendo a certeza que deste modo participava da Paixão de Jesus Cristo e no sofrimento da Virgem Maria”. Nesta data, desde 1914, antes do nascimento do nosso Poeta, Santa Rafka, cujo nome de batismo significava “Pedrinha”, é reverenciada pelos seus devotos em todo o mundo.

Horácio nos remete a Quintus Horatius Flaccus, um dos maiores poetas da Roma Antiga, autor da célebre frase “carpe diem quam minimum credula postero” (colhe o dia quanto menos confia no amanhã). Nas Escrituras Sagradas, vemos Dídimo como agnome de “Tomé, chamado Dídimo, um dos Doze” (João 20,24). O Dídimo bíblico protagonizou nossa fraqueza de fé ao querer ver e tocar o ressuscitado, contudo, deixou-nos oração que ainda hoje rezamos: “Meu Senhor e meu Deus” e foi por ele que Jesus Cristo falou a todos nós: “Bem-aventurados os que não viram e, contudo, creram” (João 20,29).

Os pais de Horácio Dídimo eram Dídimo Barbosa Vieira e Emir de Horácio Vieira. Poderíamos dizer que ele era Horácio de Emir e Dídimo de Dídimo. O menino nasceu na Fortaleza de Nossa Senhora da Assunção, que o vira se tornar poeta, ficcionista e ensaísta. Nesta Fortaleza, Dídimo estudou, no Colégio Cearense do Sagrado Coração, fundado no ano do falecimento de Santa Rafka, administrado por sacerdotes e irmãos maristas. Depois, Dídimo foi para a Capital, o Rio de Janeiro, onde cursou Direito na antiga Universidade do Estado da Guanabara. De retorno ao Ceará, cursou Letras na Universidade Federal do Ceará. Mais tarde, obteve o grau de Mestre em Literatura Brasileira, pela Universidade Federal da Paraíba, em nosso Nordeste Brasileiro. Depois, Dídimo foi para as Minas Gerais, de poetas, santos e pão de queijo. Ali obtém o grau de Doutor em Literatura Comparada, pela Universidade Federal de Minas Gerais.

No campo pessoal, conheceu Maria Evendina Camurça que após casar-se com Dídimo, acrescentou Vieira ao sobrenome e com ele gerou 4 filhos, sendo avós de 10 netos.

Dona Evendina é sobrinha do nosso saudoso Conselheiro de Honra fundador, Mons. André Viana Camurça. Foi o Mons. André que concedeu ao casal as bênçãos matrimoniais, no dia 13 de janeiro de 1962, há mais de 56 anos. Talvez os Senhores me permitam um pequeno parêntese. No sacerdócio, o seminarista Andrezinho, era o mais jovem. Antes dele tinha José e depois de José tinha o Antonino. Eram três amigos de seminário, de ideal e de amor à Igreja. Foram fiéis ao juramento feito diante de seus bispos. José, Bezerra Coutinho, Dom Coutinho, foi ordenado sacerdote no dia 3 de dezembro de 1933; Antonino, Cordeiro Soares, Mons. Antonino, foi ordenado em 21 de setembro de 1935 e Andrezinho, Viana Camurça, Mons. Camurça, em 8 de dezembro de 1935. Os três foram grandes amigos e pelos prenomes que apresentamos se cumprimentaram a vida toda. Conheci os três. Vi a santidade que eles exalavam e sei que os três, no céu, receberam nosso Poeta Dídimo!

Voltando ao Poeta, no Ceará, ele foi advogado do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas e chefe da Assessoria Jurídica da Secretaria de Viação, Obras, Minas e Energia do Estado. Professor do Departamento de Literatura e da Pós-Graduação em Letras da nossa Salamanca, a Universidade Federal do Ceará.
Horácio Dídimo

Dídimo publicou, Poesia: Tempo de Chuva (1967), Tijolo de Barro (1968), O Chão dos Astronautas - Pictopoemas (1969), Passarinho Carrancudo (1980), A Palavra e a palavra (1980), Amor - Palavra que Muda de Cor (1984), nova edição do livro anterior, Piérvaia Titrat Rússkovo Iazyká (Primeiro Caderno de Russo) (1986), A Nave de Prata - Livro de Sonetos & Quadro Verde - Poemas Visuais (1991), Esperantaj Poemetoj, Estrela da Vida Inteira (1996), Ficções Lobatianas (1997), A Estrela Azul e o Almofariz (1998), A Nave de Rubi (2006), A Nave de Ouro (2012), O Afinador de Palavras (2013), A Estrela Azul da Fé e da Poesia (2015), O Livro dos Sonetilhos (2016). Ensaio: As Sete Dimensões do Exercício de Escrever (1984), O Signo Poemático, Reflexões de um Passarinho Carrancudo, As Harmonias do Pai-Nosso - Roteiros para Meditação (1983), com 2ª edição em 1986, As Funções da Linguagem e da Literatura, As Funções da Literatura Infantil (1986), As Dimensões do Magistério de Letras, no Jornal de Cultura da UFC, nº 20 (1990), Tipologia dos Personagens, Manuel Bandeira: Poesia e Personagem, A Contemplação da Face de Cristo, Poesia & Literatura Infantil, Panorama Poético da Literatura Cearense, O Pequeno Leitor, Poesia Brasileira: Tipologia, Deslocamento e Desrealização (dissertação de mestrado), Ficções Lobatianas: Dona Aranha e as Seis Arainhas no Sítio do Picapau Amarelo (tese de doutorado), As Dimensões do Ofício de Escritor. Literatura infantil: O Passarinho Carrancudo (1980), com 2ª edição em 1982, As Historinhas do Mestre Jabuti[19] (1982), As Reinações do Rei, Historinhas Cascudas, Festa do Mercadinho (1981), A Escola dos Bichos (1982), O Desfile das Letras (1982), As Flores e os Passarinhos (1983), Um Novo Dia (1983), A Cara dos Algarismos (1983), As Letras e os Números, Tempo de Sol, Exercícios de Admiração, O Menino Impossível, O Menino Perguntador (1986), O Pequeno Poeta, Os Compadres Bichos.

O reconhecimento chegou ao intelectual Horácio Dídimo, com a conquista de uma cadeira na Academia Cearense de Letras, a mais antiga do Brasil, na Academia Cearense da Língua Portuguesa, na Academia de Letras e Artes do Nordeste, na Academia de Ciências Sociais do Ceará, na Associação Brasileira de Bibliófilos, honorariamente na Academia Fortalezense de Letras, quando Matusahila Santiago e eu a fundamos e, ainda, de correspondente na Academia de Letras e Artes Mater Salvatoris (Salvador-Bahia). Quando fundávamos a Academia Brasileira de Hagiologia, de imediato nos lembramos do intelectual que era membro da Comunidade Católica Face de Cristo, e o convidamos. Ele aceitou o convite e fundou a Cadeira de nº 15, tendo por Patrona Nossa Senhora do Rosário. E Rosário quer dizer, um tanto de rosas, um buquê de rosas que se oferece à Mãe de Deus. Cada Ave Maria é uma rosa que oferecemos à Mãe de Deus e Nossa. Penso que Dídimo quis oferecer um buquê de Rosas à Virgem do Rosário, a mesma de Fátima, do Rosário de Fátima, que abençoou seu amor e sua união matrimonial com Dona Evendina.

“No início era o Verbo e o Verbo era Deus. Ele estava, no início, voltado para Deus. Tudo foi feito por meio dele: e sem ele nada se fez do que feito. Nele estava a vida e a vida era a luz dos homens...” (João 1, 1-4). Dídimo entendeu a Palavra, o Verbo. O sagrado sempre permeou sua escrita, sua vida, seu modo sereno de ser. Assim, “A Estrela Azul da Fé e da Poesia” brilhou, “As Harmonias do Pai-Nosso” se fizeram roteiro para meditação e “A Contemplação da Face de Cristo” é o prêmio que ele, “servo bom e fiel”, recebeu, do último dia 2 para o dia 3 de setembro, quando foi chamado à presença de seu Rei, nosso Rei, verdadeiro Rei, JESUS!

Amém!
Fortaleza, 26 de setembro de 2018.

José Luís Araújo Lira [2]





[1] Acadêmicos/as falecidos/as: Poeta Gerardo Melo Mourão (2007), Dom Aloísio Lorscheider (2007), Dom José Bezerra Coutinho (2008), Prof. Aureliano Diamantino Silveira (2008), Escritor Antonio Olinto (2009), Prof. José Costa Matos (2009), Profª. Nilza Botelho Megale (2010), Mons. André Viana Camurça (2011), Mons. Francisco de Assis Pereira (2011), Pe. Joaquim Colaço Dourado (2014), Profª. Norma Soares (2014), Prof. Ronaldo Mourão (2014), Ir. Elisabeth Silveira (2015), Prof. José Teodoro Soares (2016), Ir. Francileide Bizerril (2016), Des. Francisco Barbosa Filho (2017) e, finalmente, Horácio Dídimo Pereira Barbosa Vieira (2018).

[2] Fundador, primeiro Presidente e atual Presidente de Honra da Academia Brasileira de Hagiologia. Orador oficial na Sessão da Saudade in memoriam do Acadêmico Horácio Dídimo Pereira Barbosa Vieira.

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