Onde Deus está? - Mensagem de Natal do acadêmico Fábio Tucci


Adoração dos Reis Magos por Gentile da Fabriano (1423)

Caros confrades e confreiras,

Nesta época, chamada de Advento, costumamos nos preparar para o Natal, quando recordamos o momento em que Deus deixou os confins insondáveis do Universo para mergulhar nas profundezas de nossa existência, deixou o Trono Celeste e se abrigou em uma gruta escura... em um estábulo. Festejamos um Deus frágil, miserável, perseguido. Um Deus tragicamente humano.

Menos de duas semanas depois, celebramos a Epifania, que traduz ao mundo o sentido do Natal. Reis deixam o conforto de seus palácios e partem em peregrinação a uma terra desconhecida, sem se importarem com os perigos da jornada. Na Epifania, esses sábios – reis, sacerdotes ou magos –descobrem, em uma gruta escura, o que há de mais esplendoroso. E sentem, possivelmente em um estábulo, o mais agradável dos perfumes. 

Este ano, quando desembrulhava as peças do presépio, aconteceu algo terrivelmente extraordinário. Em um movimento distraído, o personagem mais importante escapou de minhas mãos e se espatifou. Em pedaços, o Menino Jesus espalhou-se pelo chão sujo, alcançando os lugares mais poeirentos debaixo dos móveis.

Passado o susto, comecei a recolher os cacos. No primeiro que coloquei na palma da mão direita, lembrei-me de uma menina de dois anos que conheci há poucas semanas. Sem cabelos por causa do tratamento do câncer, ela vagava pelo corredor escuro de uma unidade do SUS em um grande hospital. Ao receber um presente, seu rosto se iluminou. E ela sorriu.

No segundo caco, recordei um garoto maltrapilho de sete anos, em uma casa improvisada com caixas de papelão. O rosto sujo exibiu um largo sorriso quando ele apanhou um tablete de chocolate. Cada caco que colocava na palma da mão carregava a lembrança de alguém. Foram dezenas de pessoas. Frágeis, miseráveis, perseguidas. Sujas. E com algo em comum: ofereciam o melhor refúgio a Deus, um Deus tragicamente humano, um Deus que zomba da seus mais pretensiosos súditos. 

O último pedaço que consegui resgatar eram os dois olhinhos, juntos. Eles me fitavam com alegria . E espanto. E diziam: “Vc já sabe onde me encontrar”.

Feliz Natal e um abençoado 2018!

Fábio Tucci Farah







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